Era outubro de 2001 e eu tinha ficado doente. Minha mãe me levou ao médico Dr. Arthur e ele me perguntou se eu já tinha visto como seria o Windows XP.
Eu disse a ele que sim, já havia visto em revistas e jornais algumas screenshots do novo sistema da Microsoft. Me lembro até hoje o que ele me disse sobre o sistema, mas não vou contar aqui. Talvez minha mãe também se lembre.
Meus pais tinham lojas de informática nesta época, então era fácil conhecer novas tecnologias. Logo provavelmente eu colocaria a mão no sistema novo.
O dia 25 chegou e com ele o lançamento do Windows XP. A internet era diferente na época, difícil acompanhar os lançamentos ao vivo.
Não existiam formas fáceis de transmitir um vídeo ao vivo. Quer dizer, até existiam. Talvez com RealPlayer. Vai saber...
Acompanhávamos o lançamento e as novidades da forma que dava — lendo as matérias do portal de tecnologia do Terra. Era uma fonte bacana de informação na época.
Na época eu tinha um K6-2 500 MHz numa Asus P5A. Ele tinha 128 MB de RAM Itaucom e um Barracuda de 20 GB.
Ela rodava uma Creative Banshee de 8 MB AGP e uma Creative SoundBlaster AWE64.
Minha placa de rede era uma 3Com (uso delas até hoje).
Esta máquina era montada no gabinete do Itautec Transglobe, que aliás tenho um igual hoje em dia.
O sistema que estava instalado nela era o Windows 2000 Professional e o mensageiro da época era o ICQ.
Era novembro de 2001, início da madrugada. Não que precisasse mais, mas era costume. Na época já contávamos com ADSL. Speedy da Telefónica.
256 kbps e mantinha a linha telefônica livre.
Tínhamos o pacote mais rápido disponível. Podia ficar 24 horas por dia conectado sem pagar pelo pulso. Era o futuro!
Sejamos honestos, o Prestige 642 demorava um pouco pra iniciar, e o sinal ADSL também era fraco. Isso tornava o processo de conexão tortuoso.
Mas uma vez acesos os 4 leds, era só alegria!
Eu estava conversando via ICQ com um cara lá do Espírito Santo. Ele também curtia bastante tecnologia, tinha um PC legal e ficávamos trocando experiências sobre o assunto.
Lembro que ele me perguntou se eu já tinha usado o Windows XP. Eu respondi que não.
Em seguida ele mandou a frase que se tornou o início da história que quero contar:
— Se você quiser, tenho ele aqui!
(Vamos lembrar que o Windows XP podia ter sua licença e ativação feitas após a instalação)
É claro que eu aceitei, porém tinha um problema: o Windows XP vinha em DVD. A transferência de arquivos no ICQ era precária e criar um arquivo zip grande era ter certeza de que a transferência iria falhar.
A solução foi criar arquivos .zip menores e um documento descrevendo a estrutura de diretórios do DVD. Assim quando as transferências terminassem, eu poderia usar aquele documento pra jogar tudo no lugar certo.
Por que não um .iso? Não faria diferença. Naquela época eu não tinha nem gravador de CD, imagina se teria um de DVD.
Claro, aquela cópia não teria boot, mas quem se importa? Os disquetes estão aí pra isso.
Não me lembro ao certo o dia do mês, mas me lembro que a conversa foi numa sexta-feira.
Deixamos a noite transferindo os arquivos e fui dormir. Aquilo iria levar horas.
Eu recebia os arquivos numa ADSL 256 kbps e ele enviava de uma ISDN de 128!
A ISDN era uma conexão complicada. Na época da conexão discada era o que as pessoas com muito dinheiro usavam.
Ela usava 2 linhas telefônicas pra se conectar em cada uma a 56 kbps.
Tinha um modem específico pra isso que também balanceava a conexão entre as duas linhas.
Mantinha as 2 ocupadas.
No sábado de manhã eu acordei e fui logo ver se as transferências tinham dado certo. As chances de alguma ter tido falha era grande.
Como aparentemente estava tudo ok, comecei a descompactar os arquivos e conferir no documento a estrutura dos diretórios. (não se iludam, o documento era só uma meia dúzia de mensagens trocadas via ICQ mesmo dizendo onde descompactar cada arquivo.)
Tudo descompactado, estrutura aparentemente ok, era a hora da verdade. Na raíz do DVD tinha o arquivo Setup.exe
Cliquei para instalar o Windows XP e a instalação se abriu.
Segui os passos e uma meia hora depois a instalação havia concluído. Agora era a hora da verdade!
A máquina reiniciou e a tela preta com o logotipo do Windows XP apareceu. E sim, era a versão Professional.
E apareceu a tela de boas vindas desalinhada que sempre me incomodou.
O Windows XP pede pra configurar um usuário, recurso típico dos Windows NT.
Depois de feito o processo, enfim a tela inicial.
Ele era muito colorido. Tudo muito vivo, com verde e azul e janelas de cores diferenciadas.
As janelas, aliás, tinham cantos arredondados e o menu iniciar foi todo redesenhado.
Preciso dizer que rodou relativamente bem no K6-2 500. O sistema até que não era tão mais pesado que o Windows 2000 Professional.
Demorei um pouco pra me acostumar, e não fui o único. O visual do Windows XP dividiu opiniões e foi bastante polêmico na época.
A verdade é que querendo ou não, este visual de cores mais vivas e cantos arredondados acabou virando tendência.
Hoje, 20 anos depois de seu lançamento, muita gente sequer usou o Windows XP. Mas com certeza quem usou se lembra da revolução que ele representou para o mundo dos sistemas operacionais.